UM SOBRADO, UM CORTIÇO E UM PACTO NO RIO
Resumo
O objetivo deste ensaio, Um Sobrado, um Cortiço e um Pacto no Rio, é apresentar, em visão panorâmica, um possível enquadramento das obras Dom Casmurro (1899), de Machado de Assis, e O Cortiço (1890), de Aluísio Azevedo, como parcelas das perspectivas estéticas paródicas da dupla articulação do Brasil na economia-mundo capitalista – seja no plano da infraestrutura ou da superestrutura –, o que, neste caso, se configura, de um lado, por meio de um processo de regionalização do tecido narrativo europeu (tese regionalista: adequação da paisagem estética europeia – tempo, espaço e pessoa – à paisagem local, a partir do aproveitamento e da apropriação de elementos endógenos à paisagem brasileira), e, por outro lado, por um processo de europeização antropofágica do tecido narrativo brasileiro (tese antropofágica: adequação da paisagem estética brasileira – tempo, espaço e pessoa – à paisagem europeia, a partir do aproveitamento e da apropriação de elementos exógenos à paisagem brasileira), no sentido de cumprir, com uma representação duplamente articulada da paisagem estética, uma função daguerreotípica de representação crítica do espaço e do sujeito brasileiros, no tempo da segunda metade do século XIX, como expressão máxima do belo realista de tese psicológica, sociológica e naturalista. Para mediar as considerações a respeito desta dupla articulação, propõe-se, como chave interpretativa, tanto do plano material quanto do plano da cultura, o mito fáustico, metonímia e metáfora, ao mesmo tempo, de construção de uma economia-mundo moderna e contemporânea, em que se inserem as obras em questão.
PALAVRAS-CHAVE: Narrativa brasileira. Regionalismo. Antropofagia. Machado de Assis. Aluísio Azevedo.