MACHADO, MORAVIA E O DIABO DE FAUSTO
Resumo
O objetivo deste ensaio é apresentar o romance Dom Casmurro (1899, edição de 1999), do brasileiro Machado de Assis, e o conto Il Diavolo non Può Salvare il Mondo (1983, edição de 1986 em português: O Diabo não Pode Salvar o Mundo), do italiano Alberto Moravia, como apropriações paródicas do mito do Fausto, 1587, que, dando feição às duas narrativas, assume, todavia, faturas estéticas, discursivas e ideológicas diferentes em cada uma das narrativas, em função de suas específicas vinculações geográficas, históricas e sociais. Para tanto, são considerados alguns elementos da história social da arte e da literatura1, sobremaneira, a partir da perspectiva de Arnold Hauser (1988), que permitem significar, sociologicamente, as relações dialéticas estabelecidas entre os dois discursos narrativos estéticos e outros discursos sociais não-estéticos que participam da composição destas narrativas; também serão considerados alguns elementos da metapsicologia freudiana2, em ilações a respeito da relação entre prazer e trabalho, eros e civilização, destacadamente, a partir do ponto de vista de Herbert Marcuse (1956), ainda que en passant, corroborando as significações históricas e sociológicas apontadas, em um primeiro momento, por meio de um delineamento de ligações entre civilização, magia, arte e religião, criações humanas da ordem da cultura, todavia, fundamentais para a compreensão do mito como narrativa estética, do mito fáustico e das suas atualizações históricas como interpretações do mundo moderno e contemporâneo.
1 HAUSER, Arnold. História Social da Arte e da Literatura. Trad. de Álvaro Cabral. São Paulo: Martins Fontes, 1988.
2 MARCUSE, Herbert. Eros e Civilização: Uma Interpretação Filosófica do Pensamento de Freud. Trad. de Álvaro Cabral. Rio de Janeiro: Círculo do Livro, s/d. (original de 1956).