A VOZ FEMININA NO ROMANCE HISTÓRICO DESMUNDO, DE ANA MIRANDA
Resumo
Ana Miranda em seu romance Desmundo, de 1996, explora através do olhar crítico e desafiador da narradora-personagem Oribela, questões relacionadas ao tratamento dispensado às mulheres no período colonial brasileiro, quando a protagonista e mais seis órfãs são enviadas para se casarem com os portugueses que aqui estavam, narrando de forma desvelada todo o horror das situações humilhantes e insalubres pelas quais passaram durante a viagem e quando se fixaram na terra recém-descoberta, em uma narrativa que utiliza da ficção para denunciar a dura realidade que as mulheres enfrentavam nesse período histórico. Esse artigo procura discutir e identificar os traços característicos que configuram o romance de Ana Miranda como um romance histórico, abordando sua narrativa com base nas considerações de György Lukács (2011) em sua teoria do romance histórico, bem como os postulados de Peter Burke (1997), apontando a relação entre ficção e história e demonstrando como o texto literário pode revisitar o passado de forma crítica, em contraponto ao caráter inquestionável dos textos históricos, dando voz àquelas minorias que foram silenciadas pela história.